Quem segue alguém na rua, ainda que por mero automatismo e com
uma indiferença aparente, não pode deixar de em breve formular
vários desejos, bons e maus, a respeito da criatura a quem segue...
(...)
O amor é algo de absoluto (...) e se o absoluto tem de se
exprimir em termos terrenos, cai sempre no patético, visto ser
indemonstrável...
(...)
Só há uma coisa verdadeiramente patética e tem um nome:
eternidade. E, como não há para o homem eternidade positiva, é
preciso que ela se torne negativa e chama-se: não-tornar-a-ver. Se
eu partir, está aí a eternidade. Então você estará eternamente
longe e eu posso dizer que a amo...
(...)
Creio com a mais profunda fé que só numa terrível exacerbação
da estranheza, só quando esta é, por assim dizer, levada ao
infinito, ela se pode transformar no seu oposto, no conhecimento
absoluto, e pode então desabrochar aquilo que, à sua frente, paira
como objectivo inatingível do amor, mas que o constitui: o mistério
da unidade. De uma lenta habituação recíproca, de uma recíproca
familiarização, não nasce mistério nenhum...
edições 70
trad. António Ferreira Marques
Hermann Broch
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