domingo, 3 de maio de 2015

Os Sonâmbulos, Volume I - Pasenow ou o Romantismo, Hermann Broch (cont)

Quem segue alguém na rua, ainda que por mero automatismo e com uma indiferença aparente, não pode deixar de em breve formular vários desejos, bons e maus, a respeito da criatura a quem segue...
(...)
O amor é algo de absoluto (...) e se o absoluto tem de se exprimir em termos terrenos, cai sempre no patético, visto ser indemonstrável...
(...)
Só há uma coisa verdadeiramente patética e tem um nome: eternidade. E, como não há para o homem eternidade positiva, é preciso que ela se torne negativa e chama-se: não-tornar-a-ver. Se eu partir, está aí a eternidade. Então você estará eternamente longe e eu posso dizer que a amo...
(...)

Creio com a mais profunda fé que só numa terrível exacerbação da estranheza, só quando esta é, por assim dizer, levada ao infinito, ela se pode transformar no seu oposto, no conhecimento absoluto, e pode então desabrochar aquilo que, à sua frente, paira como objectivo inatingível do amor, mas que o constitui: o mistério da unidade. De uma lenta habituação recíproca, de uma recíproca familiarização, não nasce mistério nenhum...

edições 70
trad. António Ferreira Marques

Hermann Broch

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