O videoclip
de Offbeat alicerça-se no apelo cantado à diversidade
- Baby I don't care if you're black or white -, signo
populista - e imagem de marca dos Cais Sodré Funk Connection
- que é traduzido no vídeo pela reunião improvável de
personagens-tipo com proveniências díspares - e pela vinculação
subreptícia dessa heterogeneidade a uma modelação erótica
variada.
O trajecto narrativo do videoclip transita dos modelos
consentâneos do erotismo conservador - a reprodução de clichés
do erotismo masculino e feminino - para a alteridade fugidia de
padrões alternativos - a sexualidade indefinida do travestimento ou
o fulgor tardio de uma senhora idosa. A estranheza dessa imanência
sexual é destacada pela alternância dos episódios eróticos com
capítulos de abstracção nonsense - a criança com a
espingarda, o anão mascarado, o registo performativo dos músicos -,
conferindo ao todo a textura de um exercício de bestialidade - em contextualização que lembra vagamente o videoclip Fluorescent Adolescent
(2007), dos Arctic
Monkeys.
Os diferentes registos são organizados em ritmo compassado pelos quadros fixos - em planos frontais inspirados em Wes Anderson -, que funcionam tanto melhor
quanto mais estilizados. Os planos nocturnos, em que se acentua o
contraste entre zonas de luz e sombra - o plano de um músico
encostado à parede, destacado do cone de sombra circundante pela luz
picada que cai sobre si; a dança do homem mascarado num corredor
sombrio, iluminada pelas centelhas faiscantes de uma tocha acesa -,
veiculam perfeitamente a carga de sombra evocada pela música. Em
sentido inverso, os planos captados de dia - sobretudo aqueles em que
se explora a profundidade de campo - realçam excessivamente a
textura rugosa do espaço, perdendo-se pela precisão do contexto a
aura sombria destacada anteriormente.
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