Ao nível da forma, Homesick anda à boleia de Michael Haneke
no que este tem de bom - o tratamento do som como elemento de
perturbação do espaço; a compartimentação cuidada dos interiores
- e no que tem de mau - a tendência defensiva da forma na restrição
geométrica dos planos; a tentativa de desconfortar o espectador pela
familiaridade forçada da sequência final.
A premissa do filme - o impacto de uma mudança de casa na vida de um
jovem casal - retoma Rosemary's Baby, de Polanski, do qual
herda a questão da permeabilidade de um apartamento face à acção
vigilante e inóspita de estranhos, ou a obsessão
crescente de uma rapariga solitária face a fenómenos de inquietante
estranheza. Conquanto o primeiro terço seja interessante - quando
essa estranheza ainda não se concretizou em figuração de loucura
-, a exigência (auto-imposta) de um desfecho nítido assoma de forma
prejudicial à segunda metade do
filme.
Num contratempo recorrente de argumentos que crescem em redor de um
esquema binário - serão os fenómenos experimentados por Jessica o
produto da sua loucura ou o resultado de uma maquinação? -, a
antevisão distante de uma solução para a narrativa condiciona o
desenvolvimento do filme, compromentendo-o com essa dúvida central.
As reviravoltas que antecedem o desenlace ilustram mais a incerteza
do realizador do que a pretensa loucura da protagonista.
Ainda que a primeira metade de Homesick tenha momentos de bom
suspense - a textura do digital nos belíssimos planos do exterior do
edifício; o tratamento claustrofóbico da luz e do som; a sequência
em que, a meio da noite, Jessica sai à rua e desaparece entre as
sombras -, o argumento escrito parece ter sido pensado apenas para
uma curta-metragem, e o filme não sobrevive ao improviso que
o arrasta dolorosamente até final.
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